A arte no espaço sagrado hoje




“Proclama a palavra, insiste no tempo oportuno e no importuno”... (Bíblia de Jerusalém, P. 2079).
A arte plástica no espaço sagrado, proporciona um meio eficaz no caminho da evangelização, do anuncio da palavra, ela carrega em si a capacidade de aproximar o homem de seu Criador, o Belo que quer se manifestar todo, a todos, pelas partes. Pois “a arte é rapto de fragmentos do Belo, que não se contem nos fragmento, mas se dá todo sem se esgotar”.
O Papa comenta na sua encíclica aos artistas: “a história da arte não é uma história de obras, mas de homens’. ‘São Francisco de Assis no monte Alverne, ao receber os estigmas, profere: ‘Vós sois beleza! Vós sois beleza’! São Boaventura comenta: ‘contemplava nas coisas belas o Belíssimo e seguindo o rasto impresso nas criaturas, buscava por todo lado o Dileto’.‘Comenta Macário, o grande: a beleza transfigurante e libertadora que irradia do ressuscitado: a alma que foi plenamente iluminada pela beleza inexprimível da gloria luminosa do rosto de Cristo, fica cheia do Espírito Santo (...) é toda olhos, toda luz, toda rosto’”, (Doc. Carta do Papa João Paulo II ao Artistas, Pg. 8 e 14).
Hoje há muitos daqueles, que devem e tem a missão de anunciar o Evangelho da salvação, oportuna e inoportunamente, como ouvimos no anuncio apostólico. Mas infelizmente, hoje há muitos leigos, padres e até bispos, influenciados pelo modernismo prático e retangular, baseado nestes conceitos pragmáticos, alguns desses homens da fé, querem eliminar valores culturais e fragmentos de contemplação do Belo, a arte plástica. Pois se assim agirem, eliminarão um grande meio que proporciona a vivencia da fé de cada homem.
Por ignorância no conhecimento da histórica agem mau, esvaziam suas Igrejas e seus presbitérios, de qualquer arte autêntica, (as artes plásticas), que proporciona o homem a reflexão da Gloria Divina, representada em cada traço de uma arte serena; empobrecem o espaço sagrado, com linhas retangulares e cores desarmônicas, nos ambientes que deveriam refletir a gloria infinita do Criador. Cores e linhas que não dizem nada, a não ser, o reflexo do vazio interior de alguns homens contemporâneos, impiedosos e ignorantes da história de homens na cultura da fé. Estes mestres e senhores, instruem mau e até desprezam seus fiéis, com suas atitudes insensíveis e impiedosas no compromisso de vida cristã e de autenticidade da fé.
Se, João Paulo II afirma em sua carta aos artistas: que a história da arte é a história de homens. E, se também podemos afirmar que Deus se revelou aos homens na história, segundo a teologia, então tais opositores da arte no espaço sagrado, querem tirar Deus da história e, se assim agem, então, eles tiram um dos meios que o homem tem na vivencia da fé.
Mas em vez daquilo que é próprio da cultura humana, o que eles apresentam como meio de chegar ao criador? E a aquém eles apresentam? Será aos anjos? Um ambiente angelical?  Ou a homens precários, que precisão do auxílio do sensível e material, para chegar ao imaterial, o espiritual?  
Mas infelizmente tais mestres, usam uma desculpa, para sustentar suas teorias do ambiente vazio e pobre da gloria do Criador; dizem eles: as imagens dos gloriosos santos, as pinturas de painéis, dos ícones e dos mosaicos, atrapalham ao fiel no encontro com Jesus Eucarístico, pois Ele deve ser o centro da atenção do fiel, e as imagens desviam  este homem do “centro” que é Jesus.
Pois bem, se o homem agir assim, desprezando o imagético e imaginário, está eliminando uma parte de sua história, uma parte de sua própria humanidade, os sentidos, sua subjetividade, pois é este um dos meios, que o leva o homem a imaginar, raciocinar e contemplar seu Criador.
Dizem os opositores a respeito de seus fiéis: quando o fiel entrar e estar dentro de uma Igreja, deve ver o Cristo no sacrário, o Cristo Eucarístico. Não está mau desejar isso para os seus fiéis, mas se o homem necessita do sensível e dos sentidos  para chegar até Deus, como poderá ele, o homem simples (comum e ingênuo) chegar até seu criador, se não tem um ambiente sensível que o proporcione a isso?
Afirma-se na metafísica: a Eucaristia é a presença real não localizável de Jesus. Ou seja, Jesus está presente de fato, mas nós não podemos velo, ou localiza-lo, então, com o auxílio da arte, o homem pode localizar e contemplar de forma imaginária seu Senhor e Criador. Se ao contrário, como pode o natural ver o sobrenatural, se não for de forma analógica e racionalizada pela ajuda do sensível?
É evidente que muitos podem chegar a Deus através da contemplação puramente racional, mas podemos atribuir essa graça a todos os filhos de Deus? Inclusive ao mais simples de todos: as crianças, “os senhores dá roça”, os surdos, os estrangeiros que não entende a nossa língua, os ignorantes da fé, etc?
Portanto, para estes a arte é um meio de conhecer e contemplar seu Criador, porem, é verdade, deve-se ter sensatez nas arquiteturas do espaço sagrado: não se deve carregar de mais, como faziam os barrocos, nem tirar tudo como os modernistas. Tal ambiente deve sempre contribuir para uma piedade devocional sensata, sem perder o sentido místico do espaço sagrado. Este meio deve proporcionar um ambiente de oração e contemplação da gloria do Criador, refletida através do sensível imagético. É preciso então achar um equilíbrio “decorativo”, para não carregar de mais e nem tirar tudo e deixar o vazio predominar.
Pois é o desejo do próprio Cristo que todos os homens reflitam e cheguem ao Criador pelas criaturas, quando Ele diz: “olhai os lírios do campo”, olhai as aves do céu (...) aquele que no momento que caminhava para seu próprio Sacrifício no Altar, em oferenda ao Pai e Criador de todas as coisas, pedia a confiar na providencia e a contemplar o seu Senhor através do sensível. Quem somos nós geração imagética, para ousar acabar com o sensível no espaço sagrado e espiritual?

03/2011, Isaias Boruch.

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